Opinião: A evasão nos cursos de engenharia e o futuro incerto do Brasil sem engenheiros

Marcos Massahiro Wada*

Nos últimos anos, o Brasil tem assistido a uma queda acentuada no número de estudantes matriculados em cursos de engenharia. Um exemplo emblemático é a Engenharia Civil, que, em 2015, contava com 358 mil alunos. Hoje, são apenas 172 mil, uma redução de 51%, conforme dados do Mapa do Ensino Superior do Instituto Semesp. A retração se repete em quase todas as áreas: Produção, Mecânica, Eletrônica, Alimentos, Elétrica, Química. Os únicos cursos que destoam da tendência são Engenharia de Computação e Engenharia de Software, impulsionados pela transformação digital e pela demanda crescente por profissionais de tecnologia.

Essa mudança de cenário não pode ser ignorada. Engenheiros e engenheiras são pilares de qualquer projeto de desenvolvimento nacional. Eles estão por trás da infraestrutura de um país – estradas, pontes, redes elétricas, saneamento básico, construções civis, fábricas e sistemas tecnológicos. Sem esses profissionais, o avanço de uma nação fica comprometido. Não à toa, países como Coreia do Sul, China e Estados Unidos priorizam a formação de engenheiros como parte estratégica de suas políticas de desenvolvimento. São eles que tornam viáveis as inovações e asseguram competitividade global em áreas-chave da economia.

O que estaria afastando os jovens das engenharias no Brasil? Para especialistas em educação e mercado de trabalho, há uma combinação de fatores. O primeiro deles é a percepção de que a carreira de engenheiro já não oferece a estabilidade e os bons salários de décadas passadas. Muitos egressos enfrentam dificuldades para se inserir no mercado formal ou acabam migrando para outras áreas, como a gestão empresarial ou a tecnologia da informação.

Outro ponto crítico é a exigência dos cursos: com uma carga pesada de disciplinas exatas e alto grau de dificuldade, muitos alunos desistem ainda nos primeiros semestres.

Há também um descompasso entre o que as universidades oferecem e o que o mercado espera. Muitas instituições ainda trabalham com currículos engessados e pouca conexão com os desafios reais da indústria 4.0, da sustentabilidade ou da inovação tecnológica. Para os jovens, isso soa como um investimento arriscado: estudar por cinco anos e, ao final, não encontrar um campo de atuação atrativo.

Se esse movimento continuar, o Brasil pode enfrentar um futuro preocupante. A carência de engenheiros impacta diretamente a capacidade de o país executar grandes obras, expandir a infraestrutura, desenvolver novas tecnologias e atrair investimentos. Um exemplo atual é a transição energética, que exige conhecimento técnico altamente especializado em engenharia elétrica, ambiental e mecânica.

Sem profissionais qualificados, o país pode perder protagonismo global em setores estratégicos como energias renováveis, mobilidade urbana e inovação industrial.

Reverter essa tendência exige uma ação coordenada entre governo, instituições de ensino superior e setor produtivo. É preciso modernizar os currículos, aproximar os cursos das demandas reais do mercado e incentivar práticas como projetos interdisciplinares, estágios desde os primeiros anos e parcerias com empresas.

Além disso, políticas públicas de incentivo à permanência e ao desempenho estudantil, especialmente para alunos de baixa renda, são fundamentais. Bolsas, mentorias e programas de valorização da carreira podem contribuir para mudar a percepção sobre a engenharia.

Mais do que formar profissionais, trata-se de garantir que o país tenha as mentes e as mãos capazes de construir o seu futuro. A engenharia precisa voltar a ser vista como uma carreira de propósito, capaz de transformar realidades e impulsionar o desenvolvimento nacional. Sem engenheiros, o Brasil corre o risco de ficar no meio do caminho – com sonhos grandes e pouca capacidade técnica para realizá-los.

*Marcos Massahiro Wada é engenheiro civil e presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos da Alta Noroeste (AEAN).

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