MATÉRIA TÉCNICA: Floresta urbana – Artigo de Lucas Savério Proto

Os agrupamentos humanos são originados em ambientes naturais que continham diversidades de árvores as quais sempre se serviram de seus benefícios ambientais como a sombra, o microclima, o solo rico em nutrientes e vegetais diversos por serem nutricionalmente enriquecidos com a ciclagem de nutrientes que ocorre aos seus pés e que são oriundos da queda periódica de folhas e de sua putrefação lenta sob a sombra de sua copa, assim como de seus benefícios nutricionais, como frutos, flores, brotos e folhas comestíveis, a coleta de ovos em ninhos ou mesmo a caça de pássaros ou para se posicionar em caças de outros animais as vezes maiores e mais fortes.

Estudos científicos comprovam que árvores influenciam no clima, não apenas por reter a radiação solar diminuindo assim o aquecimento do solo, mas muito também porque apenas uma árvore grande, em um local ideal e rico em umidade, pode bombear água do subsolo para a atmosfera em forma de vapor através do processo fisiológico vegetal da evapotranspiração, na quantidade de 300 até 1.000 litros de água por dia, o que contribui sobre maneira com os microclimas e o teor de umidade da atmosfera local e de onde ocorre o deslocamento desse ar contendo umidade; é assim que é formado os, atualmente conhecidos, rios voadores, como é o caso da maior parte da umidade atmosférica que se desloca da Amazônia para as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.

O solo natural com propriedades físicas e químicas ideais para o cultivo de lavouras na verdade são aqueles que levaram milhões de anos em processos de deposição periódica de matéria orgânica que resulta na ciclagem de nutrientes oriundos da interação das árvores dali com o ecossistema local, com os microrganismos, macro e micronutriente existentes neste solo.

Árvores também são os seres que têm maior ação na interceptação de materiais particulados poluentes do ar, que assentam e são retidas pelas nas folhas, diminuindo consideravelmente os poluentes do ar considerando também as partículas de cheiro que contém o ar; as copas das árvores também interceptam e dissipam consideravelmente as ondas sonoras diminuindo a poluição sonora de seu entorno e, ao mesmo tempo em que acrescentam alívio às poluições visuais de cidades e complexos industriais.

O mundo também seria totalmente diferente sem as árvores para contribuem significativamente para a absorção e retenção de alguns dos Gases de Efeito Estufa (GEE), tendo ação direta na retenção das moléculas de carbono absorvidas juntos com o gás carbônico (CO2) do ar.

Os benefícios gerados pelo contato direto da humanidade com ambientes arborizados não se limitam aos benefícios tomados pela relação dos seres humanos com os serviços ambientais e climáticos supracitados, mas também percorrem as esferas fisiológicas e psicológicas, pois estudos mundiais vêm comprovando diversos benefícios fisiológicos e psicológicos oriundos da inserção das pessoas em ambientes florestados ou bosqueados que eram desconhecidos há pouco tempo, como o aumento da imunidade, a diminuição da frequência cardíaca, diminui a pressão sanguínea, alivia a depressão, diminui o cortisol, e recentemente vêm sendo comprovado até relações enzimáticas e endócrinas, assim como outros benefícios que vêm sendo comprovado a cada ano.

Conforme vêm sendo descobertos os benefícios das florestas à saúde, vêm sendo comprovado também os benefícios às cidades que tenha sua arborização adequada ao seu solo e clima, como a diminuição da temperatura do asfalto, do concreto e do ambiente em geral que tem efeito direto em evitar a ocorrência ou na diminuição dos bolsões de calor que além de tornar a vida nas cidades muito mais desgastante, caro e difícil, torna também mais perigosa, pois quando as frentes frias ou avanço de umidade encontram os bolsões de calor, por conta de sua baixa pressão, ocasiona precipitações rigorosas como tempestades, vendavais, granizo, enchentes, desmoronamentos etc., o que por sua vez costumeiramente derrubam árvores isoladas ou de espécies que não suportam os rigores climáticos regionais, resultando em mais ilhas e bolsões de calor pela cidade aumentando gradativamente esse problema todos os anos.

Consequentemente surge a necessidade de as administrações públicas entenderem e se mobilizarem para solucionar este fator tão importante que é uma arborização urbana adequada e para isso devem ser realizados levantamentos e estudos técnicos que identifique as espécies arbóreas ideais para que conviva plenamente na respectiva cidade. Hoje já é internacionalmente conhecido e preconizado pela ONU (Organização das Nações Unidas) – Habitat e pela OMS (Organização Mundial da Saúde) que, para garantir maior segurança, sustentabilidade, melhorias climáticas e ambientais assim como melhor qualidade de vida, as cidades devem ser cobertas, ao mínimo de 20 % (vinte por cento) de copas de árvores nativas.

Neste viés, devemos erigir aqui o conceito de “floresta urbana”, que vem se espalhando pelo mundo, pois mais do que a adequação de árvores de espécies nativas em cada espaço público que couber, de acordo com as possibilidades, contribuindo com melhorias aos microclimas que garantem mais segurança, sustentabilidade e qualidade de vida para a população em cidades.

Como engenheiro florestal, logo que fui nomeado na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Araçatuba (SP), comecei a desenvolver dispositivos e políticas públicas que garantam a melhoria na sua arborização urbana, composta, na sua esmagadora maioria, de espécies exóticas (não nativas), e muitas que não se adaptam ao clima e ao solo local. Foi preciso levar em conta que a cidade está inserida em um rico e complexo conjuntos de ecossistemas em uma área de encontro dos biomas Mata Atlântica o Cerrado.

Providenciamos análise pormenorizada dos estudos existentes sobre as espécies nativas da região que teriam potencial para compor a arborização do município. A ação serviu para selecionar as espécies nativas conhecidas cientificamente que têm características ornamentais em suas flores, copa, folhas, caule etc., raízes, caules e copas adequadas, que não tenham grandes frutos que virão a cair, e que tenham o porte adequado para cada local. Assim nasceu a Lista de Espécies de Árvores Nativas Para Plantio nas Calçadas no Município de Araçatuba, que você encontra no site da AEAN (Associação dos Engenheiros e Arquitetos da Alta Noroeste) – www.aean.org.br.

Estas espécies podem ser inseridas com segurança, seguindo a legislação local de arborização urbana e de urbanismo. O próximo passo é aguardar o resultado final do levantamento arbóreo que está sendo realizado em todo o município para que sejam traçadas as estratégias necessárias, juntamente com as listas de espécies adequadas e com a lei de arborização urbana do município, para a elaboração do Plano Municipal de Arborização Urbana, que versará as normas de estratégias e regras da respectiva adequação do mix da arborização urbana de Araçatuba.

Vale destacar que o Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo) realiza e apoia eventos, por meio de entidades, como a AEAN, que visam a valorização das profissões de engenharia – o que inclui os engenheiros florestais e ambientais –, agronomia e geociências, além de iniciativas que têm como objetivo incentivar a segurança da sociedade na importância da presença de profissionais habilitados nas obras e serviços ligados às profissões registradas no conselho.

*Lucas Savério Proto é diretor da AEAN (Associação dos Engenheiros e Arquitetos da Alta Noroeste) e secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Araçatuba (SP)

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