A construção civil é um setor crucial para o desenvolvimento do Brasil, responsável pela criação de infraestrutura e pela geração de empregos e renda. No entanto, as obras de construção civil podem ser palco de diversas manifestações patológicas que comprometem o desempenho, como a durabilidade, habitabilidade e a segurança das edificações. Neste sentido, é fundamental conhecer as principais manifestações patológicas que ocorrem em obras de construção civil, as suas causas e possíveis soluções, como explica o engenheiro civil Marcus Vinícius Fernandes Grossi. Nos dias 24 e 25 de março, ele ministrou o curso “Fissuras e trincas em edificações” na AEAN (Associação dos Engenheiros e Arquitetos da Alta Noroeste).

“As anomalias construtivas em obras da construção civil podem se manifestar por uma série de razões, por exemplo: por erros de projeto, falhas de execução, qualidade baixa dos materiais, manutenções inadequadas ou inexistentes, que geralmente envolvem o não cumprimento de normas técnicas, erros de utilização, negligência de manutenção, falta de atenção ou comprometimento com às prescrições dos manuais de uso, operação e manutenção, até questões que envolvem o não cumprimento de leis, afirma Grossi.

O profissional também destaca que esses problemas podem surgir a qualquer momento, em qualquer etapa da construção, inclusive, anos após a entrega de uma obra. “Mas, quando estudamos sobre patologia das construções, torna-se muito mais fácil prever a maioria das anomalias construtivas que podem ocorrer e, consequentemente, atuar preventivamente para evitá-las”, comenta o engenheiro civil.

Manifestações patológicas

Corrosão das armaduras – A corrosão das armaduras é um problema comum em estruturas de concreto armado, causado frequentemente pela exposição à umidade, ao ar e a substâncias químicas. Esse problema compromete a resistência e a durabilidade da estrutura, podendo levar a riscos à segurança das edificações e dos usuários. Para evitar a corrosão das armaduras, é importante ter um bom projeto, utilizar materiais de qualidade, realizar a manutenção regular das estruturas e protegê-las da exposição ao ambiente externo.

Destacamento de revestimentos – Trata-se de um problema comum em pisos, paredes e tetos, causado frequentemente por baixa aderência entre o revestimento e a superfície de base. Esse problema pode ser causado por uma série de fatores, como erro na aplicação do revestimento, falta de preparação adequada da superfície de base, entre outros. Para evitar o destacamento de revestimentos, é importante contar com profissionais qualificados na execução do trabalho, realizar uma boa preparação da superfície e utilizar materiais de qualidade.

Eflorescência – Este é um problema causado pelo acúmulo de sais minerais na superfície do concreto, formando manchas e incrustações brancas e comprometer a durabilidade e aparência da edificação. Para evitar a eflorescência, é importante utilizar cimento com baixo teor de clínquer ou com adições minerais que reajam com o hidróxido de cálcio gerado quando de sua hidratação, além de garantir uma boa cura do concreto e revestimento, para evitar-se fissuras, e protegê-lo da exposição a condições climáticas adversas.

Falhas na fundação – As falhas na fundação podem comprometer a estabilidade da edificação e causar problemas estruturais graves, como rachaduras e trincas nas vedações verticais e horizontais.

Infiltração de água – É um problema que pode ocorrer em áreas mal impermeabilizadas ou com falhas no sistema de drenagem. Ela geralmente se manifestar por meio de manchamento, proliferação de agentes biológicos, descascamento e bolhas na pintura, mantas ou membranas e comprometer a estanqueidade, durabilidade e saúde da edificação. Além disso, a infiltração de água por propiciar ambiente para proliferação de agentes biológicos, pode gerar condições que gerem problemas de saúde aos usuários, como alergias e problemas respiratórios.

Problemas elétricos – Incluem instalações elétricas mal dimensionadas, sobrecargas de circuitos, falta de aterramento e curtos-circuitos, que podem colocar em risco a segurança dos ocupantes do imóvel devido a choques elétricos e princípios de incêndio.

Problemas hidráulicos – Incluem vazamentos, entupimentos e problemas no abastecimento e escoamento de água, que podem afetar o conforto dos ocupantes e, dependendo da situação, causar inclusive danos à estrutura.

Trincas e fissuras – Estes são problemas frequentes em edificações, especialmente em materiais cimentícios e cerâmico. Elas podem ocorrer devido a diversos fatores, como erros de projeto, execução inadequada, movimentação do solo, variações térmicas, entre outros. Para evitar esse tipo de problema, é importante contar com profissionais qualificados na elaboração do projeto e na execução da obra, bem como realizar inspeções regulares para detectar eventuais problemas e tomar medidas preventivas ou corretivas.

Umidade – Esta é outra manifestação patológica comum em obras de construção civil, especialmente em ambientes adjacentes à áreas molhadas e molháveis, como banheiros, cozinhas e áreas de serviço. Ela pode ser causada por infiltrações, vazamentos, falta de ventilação e outras causas. Para evitar a umidade, é importante realizar um bom projeto, utilizar materiais de qualidade e garantir uma boa ventilação nos ambientes internos.

Grossi afirma que as consequências das manifestações patológicas em obras de construção civil são diversas, envolvendo prejuízos financeiros, atrasos de cronograma, insatisfação de clientes, e, nos casos mais graves, acidentes sérios, como desabamentos ou interdição devido ao comprometimento da estrutura predial.

A boa notícia, segundo o engenheiro, é que todos esses problemas podem ser evitados, começando pelo processo de gestão, ideal para garantir resultados de qualidade e comunicação transparente durante todas as etapas de um projeto e execução. “Além disso, todos os profissionais que estão atuando na obra devem estar preparados para identificar possíveis anomalias. Assim, eles podem agir com assertividade para tomar providências preventivas ou corretivas antes de degradações se tornem mais extensas e graves”, conclui Grossi.

AEAN e Crea-SP

No dia 8 de fevereiro, o Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo) realizou na sua sede, na capital paulista, um workshop sobre o tema com palestra do Mestre em Engenharia de Produção, Carlos Roberto Godoi Cintra, professor da Universidade Mogi das Cruzes (UMC) no curso de Engenharia Civil. O evento foi gratuito, com emissão de certificado, e contou com a participação on line de engenheiros filiados AEAN.

A entidade promove constantemente ações para manter os profissionais atualizados, realizando cursos, palestras e outras ações, como o Buteco da AEAN, que é um bate-papo descontraído entre os profissionais da arquitetura e engenharia para a troca de experiências.

A associação mantém estreita relação com o Crea-SP, maior conselho de fiscalização de exercício profissional da América Latina e provavelmente um dos maiores do mundo. O Crea-SP é responsável pela fiscalização de atividades profissionais nas várias modalidades da engenharia, agronomia e geociências, além das atividades dos tecnólogos.

Neste sentido, no que diz respeito à atuação dos engenheiros civis e demais profissionais que representa, fiscaliza, controla, orienta e aprimora o exercício e as atividades profissionais relacionadas. Para isso, exige registro profissional, assim como cobra ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) que é o instrumento que define, para os efeitos legais, os responsáveis técnicos pela execução de obras ou prestação de serviços relativos às profissões abrangidas pelo Sistema Confea/Crea-SP.