*Por Lucas Savério Proto
O relatório sobre igualdade climática da Oxfam apontou que as emissões de carbono, juntamente com outros gases de efeito estufa emitidos apenas por 1% da população mundial mais rica (77 milhões de pessoas), representaram 16% das emissões totais do planeta em 2019. Isto equivale à mesma quantidade emitida por 66% da população pobre global, que totaliza cerca de 5 mil milhões de pessoas, este relatório denominado “Um Planeta para os 99%” aponta que os mais ricos são os principais investidores em indústrias poluentes e são as pessoas que têm capacidade financeira para viver estilos de vida que resultam em grandes emissões de CO2, tudo isso contribuindo significativamente para o aumento exponencial do aquecimento global e relacionando-o com a ocorrência de milhões de mortes devido às suas inúmeras consequências no nosso século.
As ondas de calor estão se tornando cada vez mais frequentes e intensas, exacerbando a discussão em torno atrás de medidas que efetivamente ajudam a frear o aquecimento global. Os eventos extremos de temperaturas não apenas afetam a saúde humana como o ecossistema, mas também reforça que um dos fatores que contribuem isso é a concentração de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera. A majoração das emissões de GEE, provenientes principalmente de atividades humanas, como queima de combustíveis fósseis, desmatamentos e as alterações nos corpos hídricos e oceanos, tem levado a um aumento na retenção de calor na atmosfera. Esse acúmulo de calor resulta não apenas nas ondas de calor tórridas, mas também com a alteração nos regimes de chuvas, tempestades, ciclones, secas e enchentes, o que é devastador tanto para a vida humana como para os ecossistemas, para a agricultura e, por conseguinte para a economia.
Para enfrentar esse desafio complexo, as engenharias e geociências desempenham um papel crucial na busca por soluções.
Na área das geociências, o monitoramento preciso das mudanças climáticas, dos territórios e do oceano é essencial. A utilização de satélites e sistemas de sensoriamento remoto permitem a coleta de dados em escala global, fornecendo informações essenciais para entender os padrões climáticos e antecipar eventos extremos. Sendo assim, as geociências são profundamente relevantes na preservação dos sumidouros de carbono, como florestas, solos vivos, alagadiços, plânctons e corais; assim como para a restauração de ecossistemas degradados e a implementação de práticas agrícolas sustentáveis, que são práticas essenciais para a redução das emissões e o sequestro eficiente do carbono e do metano da atmosfera.
Uma abordagem fundamental é a transição para fontes de energia mais limpas e o desenvolvimento com soluções sustentáveis. A engenharia de energias renováveis, incluindo solar, eólica e hidrelétrica, desempenha função vital na redução das emissões de carbono associadas à produção de energia.
Muito além disso, os avanços na engenharia de captura e armazenamento de carbono são essenciais para mitigar os impactos das emissões, tanto na agricultura de baixo carbono, passando pelas indústrias de baixo carbono, gestão das águas, tecnologias e sistemas para monitorar e mitigar os impactos das mudanças climáticas, construções com alta eficiência energética, uso de materiais e técnicas de construção sustentáveis, adoção de práticas sustentáveis, o uso de materiais naturais e a priorização de materiais regionais na construção civil, até máquinas que removem artificialmente o GEE da atmosfera. Essas tecnologias podem ajudar a reduzir a quantidade de carbono e metano acumulada na atmosfera exponencialmente, contribuindo para estabilizar as concentrações de GEE.
A proteção e implantação de florestas e ecossistemas contribuem significativamente para frear a crise climática assim como protegem a vida dos ecossistemas e dos biomas, e também as nascentes e corpos hídricos através do ramo da Engenharia Florestal que realizam levantamentos e monitoramentos, e elaboram projetos de proteção, implantação ou restauração de florestas produtivas e de florestas nativas que são certificadas para gerar, além de diversos ativos ambientais, créditos de carbono de soluções baseadas na natureza.
Mecanismos estes que, quando certificados, fornecem garantia de que grandes áreas de florestas nativas, como por exemplo da Floresta Amazônica, serão protegidas por décadas, o que de outra forma seriam destruídas, até legalmente, em imensas partes que fragmentam a maior floresta do mundo; sendo preservados através da geração de certificados internacionais de compensação de carbono na Amazônia, resultantes do processo de redução de emissões, evitando o desmatamento do excedente legal, preservando toda a floresta e os milhões de seres que dela provêm do reino animal, vegetal e fúngico, e até os minerais.
Quando um crédito de carbono deste padrão é emitido na Floresta Amazônica, é porque ele foi gerado pela implantação e manutenção do processo de captura de toneladas de unidades “Carbono Equivalente” (CO²e) que considera tanto o dióxido de carbono (CO²) quanto outros gases efeito estufa (GEE) emitido no ar por trechos de mata nativa que seriam legalmente suprimidos e hoje estão assegurados, preservando intacta a natureza nativa da região e a continuidade da floresta amazônica, seus seres e todos os seus recursos minerais, vegetais e genéticos. recursos; promover um padrão nobre de créditos de carbono como títulos de crédito que garantam diferentes benefícios e significados por meio de sistemas de inspeções, credenciamentos e verificações eficazes e periódicas por entidades renomadas e com credibilidade internacional que certificam a geração anual e contínua de ativos ambientais/financeiros construídos sobre bases sustentáveis que alavancar a proteção da qualidade ambiental, as melhorias climáticas e o equilíbrio ecológico dos ecossistemas.
Representando a atividade da Engenharia Florestal que trabalha com meio ambiente, reflorestamentos, proteção e restauração dos ecossistemas, e de levantamento, monitoramento e certificação de florestas para a geração de créditos de carbono e ativos ambientais, participei ,em setembro passado (com integral apoio da MÚTUA SP e MÚTUA BRASIL), como expositor na Energy Fuel and Decarbonization Fair – EFD dentro da Environmental Services and Solutions Expo – ESS em Birmingham no Reino Unido e depois como delegado no London Climate Technology Show, em Londres e pude constatar que o mercado de carbono nos países desenvolvidos já está fundamentado, mas a demanda e crescente e o Brasil sempre fez parte significativa desse mercado por conta de suas abundantes florestas e agora vem se preparando para o desenvolvimento do mercado interno como um fundamental mecanismo participativo desta solução mundial.
O trabalho interdisciplinar entre cientistas, engenheiros e formuladores de políticas públicas e industrias é fundamental para criar soluções eficazes e sustentáveis que ajudem a frear a crise climática, preservar as águas e os ecossistemas.
*Lucas Savério Proto é engenheiro florestal, diretor da AEAN e secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Araçatuba